terça-feira, 17 de outubro de 2017

O momento de agora



A qualquer momento posso levar um tiro pelas costas.
Meu melhor amigo me deixou, entre um deboche e outro julgou meus sentimentos, as minhas verdades e disse que estou louco e exagerado.
A qualquer momento posso levar uma surra na rua.
Meu conhecido apanhou de um cara, foi subornado e retirou a queixa, hoje o agressor anda pelas ruas com sua família de políticos.
A qualquer momento posso ser oprimido e humilhado.
Uma figurinha do rolê assedia garotas todas as noites e sai como um grande garanhão, quando tentam contestá-lo, os próprios amigos que se dizem desconstruídos, protegem veementemente o macho branco opressor roqueiro.
A qualquer momento posso ficar na miséria.
Dediquei horas de trabalho no projeto de um canalha, ele me enganou e levei um calote. Acreditava em sua amizade, nas grandes contas que ele me oferecia para criar e em sua invejada fama aparente.
A qualquer momento posso sumir sem deixar um único vestígio.
A bancada evangélica se aproxima cada vez mais da bancada ruralista, formando a santa trindade com a bancada da bala. Senadores viciados em cocaína, com ala reservada em um grande hospital de sua cidade (caso haja uma overdose), corrupto comprovado e cretino é absolvido num processo gigantesco de corrupção. Os gays tiram selfies e fazem pose com militares.


Mas em nenhum momento eu esqueci do amor.
O amor punheta minha esperança, me dá sono para esquecer o desapontamento e forças pra acordar suado, hidratar meu cabelo e trabalhar.
O amor, o amor não é qualquer momento.
O amor na minha vida são todos os momentos.  

sexta-feira, 9 de junho de 2017

A morte


A bomba-relógio estourou com um telefonema no meio da tarde. POW
O coração que não aguentou bombar sangue para as veias, cansou de tudo e resolveu parar. ZUM ZUM ZUM, aquele era apenas o começo.
Papéis, papéis e papéis, a sirene tocava alto para que a trilha sonora ficasse bem gravada. A médica tentava disfarçar o cabelo oleoso com seu jaleco cheio de suor, tentativa fracassada, ganha um salário tão alto pra dar notícias de falecimento, pelo menos poderia manter o cabelo hidratado. Pode ser uma tática para que sua mensagem seja desfocada, impossível não manter os olhos naquele cabelo horroroso.
Mensagens e mais telefonemas, na era do Facebook é bem visto o comunicado, mesmo que você tenha que se arrastar até um computador para escrever qualquer coisa e postar uma foto com alguns endereços.

1º PASSO: Siga o protocolo, vista preto, compre flores, recepcione parentes de outro país, fique firme, não chore, carregue um caixão e responda por 789 vezes, com cordialidade, como aconteceu a morte.


2º PASSO: Descubra segredos ocultos, entenda a falta de conhecidos no velório, limpe sua casa, guarde luto e aprenda a viver só pelo resto da sua vida.  

quinta-feira, 23 de março de 2017

Te perdi?


Não sei onde ou aonde foi ao certo.
Lembro bem que fui buscar uma bebida, dei uma passadinha no banheiro, falei com algumas pessoas e quando voltei pra pista, você não tava lá.
A música alta e a colocação que batia em minha cabeça trocaram nossos lugares. Eu que sempre fui seu protetor, passei pro lugar de protegido, ou pensei que estava neste lugar. Beijei algumas bocas, falei alto e arrumei confusão esperando seu afago, mas você se chocou, saiu correndo, teve medo.
Foi ai que te perdi?
Ou não, pode ser que foi naquela manhã em que você desmontava sua casa, colocava a mudança no carro e eu insistia em cantar uma música de despedida. Sei que sou desafinado, a temperatura alta e sua ansiedade podem ter atrapalhado a interpretação da situação e eu que sou da zueragem confundi sua cabeça. Aquela declaração pareceu zombação. Você me deixou em casa sem eu ao menos cantar, bateu a porta do carro e se foi.
Foi ai que te perdi?
Mas também existem os boletos, sim os boletos. Na minha trapalhada de tentar viver, esqueci entre os dias aqueles papéis. O valor monetário agrada e desagrada capricornianos.
Foi ai que te perdi?
Tem aquela viagem né? Aquela onde eu aproveitei cada minuto sem olhar pros lados, sem criar relatórios. Aquela em que me permiti ser silencioso mas você não entendeu.
Foi ai que te perdi?
Se pensar bem, pode ser que te perdi no meu ego, no meu egoísmo, no meu rancor e na minha inveja. Pode ser que te perdi por te querer demais, por te proteger ao extremo, por confiar mais em você. Te perdi em minha projeção.
Pode ser que te perdi por me encontrar em você.






E você? Onde foi que você me perdeu?


sábado, 4 de março de 2017

A inveja


Ela chega assim, bem de fininho, composta em detalhes sem expressão mas com olhar atento. Supre a energia, confronta seu ego, destaca o pior do ser.
Ela está ali, bem na dela, sem gritar ou ao menos falar. Permeia a mente e se joga como um andarilho suicida.
A boca seca transforma a pupila que dilata, os dentes rangem. O amor desaparece e a paixão fica em evidência numa tragicomédia.
Traiçoeira que só, as palavras são estipuladas sem planejamento, batimentos cardíacos acelerados, pretensão além do alcance, a partir daqui o fogo domina a alma que domina o corpo que domina o asco do rancor amargo.







A verdade não existe, os amigos já se foram. Assassinato, roubo, adultério e vingança tomam seu trono perante o eu.



quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Vou desafiar você


Eu sei que minha presença pode te levar ao centro de suas confusões e tirar todos os julgamentos existentes sobre todas as formas de vida, comportamentos e existências que você acredita.
Eu sei que a minha companhia pode questionar seus preconceitos, suas armadilhas pessoais e a sua rotina sem fim.
Eu sei que a minha dedicação pode romper seus paradigmas, arrastando sua razão para o lado oposto de tudo aquilo que outros caras te fizeram acreditar.

Mas o que você não sabe é que você não é uma possibilidade.
Você é um sentimento, você é uma razão, você é um esforço, você é meu conforto.






Só que você...
você 
não 
quer 
saber.