sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Ipês, capivaras ou pôr do sol?



A capital de Mato Grosso do Sul faz enquete entre moradores e expulsa símbolos perdedores.

Como agir?


Não é de hoje a discussão, afinal o que define de fato Campo Grande, capital latifundiária, nestes seus 119 anos?
Um grande veículo de comunicação propôs a votação, são três os candidatos, ao final os perdedores serão expulsos do Estado. Já imagino as capivaras tristes seguindo seu caminho na rodovia, uma tristeza.

Na hipótese dos Ipês perderem, grandes lenhadores barbudos, produtores de cerveja artesanal, invadem a cidade e com seus machados acabam com cada ipê.

Já na derrota do pôr do sol, ao fim da votação, um buraco negro surge do nada e engole o sol. PRONTO. Viva a noite.

E se acontecer um empate, o site que fez esse questionamento perde 90 dias de publicidade. 













 Dramático né?




quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Roteiro de um crime






Tarde de segunda-feira, dois jovens caminham pela Avenida Tamandaré, o movimento de carros é grande, típico de uma segunda bem movimentada.
Os amigos discutem sobre uma marca de violões, da loja que comercializa e das famosas duplas sertanejas que usam.
Vão até o chaveiro.
Falam sobre um velho conhecido. O chaveiro se atenta ao assunto e o que eles querem com isto.
O comerciante sai de seu rotineiro posto atrás do balcão, cruza os jovens, caminha até a porta de sua loja, confere a rua. Volta para o interior, levanta um alçapão que está abaixo de uma caixa e retira uma mala luxuosa. Abre a valise e pega uma das chaves que estão ali, embrulha o objeto num simples papel e entrega aos garotos.

Corte seco.

Vão até as melhores escolas de música da cidade. Falam com os melhores a respeito de cursos e o custo.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Passando o Pano, mais um programa patrocinado por Não Quero Saber e O Cara É Meu Amigo




A atração da cidade se junta a velha balada que virou território das gays. Lembro quando levei uma cabeçada, achei que estava vendo o show do Yeah Yeah Yeahs, acabei no questionamento hetero pau mole, dancei muito e meu pai teve que me buscar. Muitas cervejas vendidas, a dona da casa nem ligou e meu conhecido apagou o post; que Facebook de merda.

Totalmente anestesiado, esquece do contexto todo e apoia quem nem deveria tá como dono de rolê, mas a barba é bem feita e as meninas são sufocadas com agressores estrelas. Um nóia apareceu em seu ensaio fotográfico, ele disse que não tinha o que comer, paciência, as fotos continuam, aparência, charme e glamour.




Michael Alig matou uma pessoa, vamos fazer igual?

terça-feira, 15 de maio de 2018

Eu não choro por você



Eu não choro por você, eu choro pelo meu romantismo. Nick Drake morreu com 27 anos, envolto da sua depressão, tomou medicamentos errados, dizem que foi suicídio. Eu acredito apenas que ele estava muito sonolento pra perceber se tinha ou não tomado sua dose, aumentou, sufocou, acabou.
E depois, o que ficou? 3 discos, apenas isto, aliais, não só apenas isto, mas a ilusão de que a idealização de uma vida perfeita pode ser alcançada em meio ao desespero, a preguiça e a falta de interesse. Não acontece, o que vem disso são livros feitos para mais jovens se matarem desta forma.

Você me destruiu, mas me destruiu de verdade. Você tirou de mim a possibilidade de mudar de cidade, tirou de mim meu interesse por mim mesmo e além disso me tirou o pouco de sanidade que tinha. O que acho bom disso? Você não ficou com nenhuma destas coisas, porque elas eram apenas minhas e você jamais se importou em carregar pelo menos um pouco do que eu sentia, que dirá carregar meus maiores bens naquele momento.

Eu não choro por você, eu choro pelo meu romantismo. Aquele romantismo que acredita que ainda posso voltar com você, que não me deixa ficar com mais ninguém, meu romantismo que me afoga em mentiras inventadas que me fazem chorar mais uma vez. E eu choro, eu choro escutando Nick Drake, que de nada virou, além de 3 discos e jovens extasiados de romantismo barato que ficam tagarelando suas letras de jovem burguês, infestado pelo dinheiro dos pais e pela fumaça do baseado, compartilhado com outros jovens mais burgueses e blasés como ele.

Eu te vi passando pela rua, me escondi e fitei seus tênis, sua calça, aquela camiseta que eu gostava que você usava. Enquanto acompanhava com meu olhar, imaginava seu perfume, o gosto da sua saliva e aquele seu sorriso torto, que me faziam tão feliz. Chorei baixinho, mais uma vez não por você, chorei pelo meu romantismo. Chorei porque quase todas as noites me imagino em sua cama, sentindo seu corpo por cima do meu, me pedindo pra cortar o cabelo, me beijando e respirando profundamente enquanto sua cabeça recostava sobre meu peito e naquele momento eu queria que o mundo acabasse. Os atrasos eram irrelevantes, podia até ficar sem fazer nada, apenas passando a mão pelos seus cabelos, te chamando de nerd chato, ignorando seus livros escritos e apenas querendo seu beijo.




Realmente eu não choro por você, eu choro pelo meu romantismo. Choro pela dor que senti tão cravada quando você apenas não me respondeu mais, não me quis mais. Choro porque eu não te quis.


terça-feira, 17 de outubro de 2017

O momento de agora



A qualquer momento posso levar um tiro pelas costas.
Meu melhor amigo me deixou, entre um deboche e outro julgou meus sentimentos, as minhas verdades e disse que estou louco e exagerado.
A qualquer momento posso levar uma surra na rua.
Meu conhecido apanhou de um cara, foi subornado e retirou a queixa, hoje o agressor anda pelas ruas com sua família de políticos.
A qualquer momento posso ser oprimido e humilhado.
Uma figurinha do rolê assedia garotas todas as noites e sai como um grande garanhão, quando tentam contestá-lo, os próprios amigos que se dizem desconstruídos, protegem veementemente o macho branco opressor roqueiro.
A qualquer momento posso ficar na miséria.
Dediquei horas de trabalho no projeto de um canalha, ele me enganou e levei um calote. Acreditava em sua amizade, nas grandes contas que ele me oferecia para criar e em sua invejada fama aparente.
A qualquer momento posso sumir sem deixar um único vestígio.
A bancada evangélica se aproxima cada vez mais da bancada ruralista, formando a santa trindade com a bancada da bala. Senadores viciados em cocaína, com ala reservada em um grande hospital de sua cidade (caso haja uma overdose), corrupto comprovado e cretino é absolvido num processo gigantesco de corrupção. Os gays tiram selfies e fazem pose com militares.


Mas em nenhum momento eu esqueci do amor.
O amor punheta minha esperança, me dá sono para esquecer o desapontamento e forças pra acordar suado, hidratar meu cabelo e trabalhar.
O amor, o amor não é qualquer momento.
O amor na minha vida são todos os momentos.  

sexta-feira, 9 de junho de 2017

A morte


A bomba-relógio estourou com um telefonema no meio da tarde. POW
O coração que não aguentou bombar sangue para as veias, cansou de tudo e resolveu parar. ZUM ZUM ZUM, aquele era apenas o começo.
Papéis, papéis e papéis, a sirene tocava alto para que a trilha sonora ficasse bem gravada. A médica tentava disfarçar o cabelo oleoso com seu jaleco cheio de suor, tentativa fracassada, ganha um salário tão alto pra dar notícias de falecimento, pelo menos poderia manter o cabelo hidratado. Pode ser uma tática para que sua mensagem seja desfocada, impossível não manter os olhos naquele cabelo horroroso.
Mensagens e mais telefonemas, na era do Facebook é bem visto o comunicado, mesmo que você tenha que se arrastar até um computador para escrever qualquer coisa e postar uma foto com alguns endereços.

1º PASSO: Siga o protocolo, vista preto, compre flores, recepcione parentes de outro país, fique firme, não chore, carregue um caixão e responda por 789 vezes, com cordialidade, como aconteceu a morte.


2º PASSO: Descubra segredos ocultos, entenda a falta de conhecidos no velório, limpe sua casa, guarde luto e aprenda a viver só pelo resto da sua vida.  

quinta-feira, 23 de março de 2017

Te perdi?


Não sei onde ou aonde foi ao certo.
Lembro bem que fui buscar uma bebida, dei uma passadinha no banheiro, falei com algumas pessoas e quando voltei pra pista, você não tava lá.
A música alta e a colocação que batia em minha cabeça trocaram nossos lugares. Eu que sempre fui seu protetor, passei pro lugar de protegido, ou pensei que estava neste lugar. Beijei algumas bocas, falei alto e arrumei confusão esperando seu afago, mas você se chocou, saiu correndo, teve medo.
Foi ai que te perdi?
Ou não, pode ser que foi naquela manhã em que você desmontava sua casa, colocava a mudança no carro e eu insistia em cantar uma música de despedida. Sei que sou desafinado, a temperatura alta e sua ansiedade podem ter atrapalhado a interpretação da situação e eu que sou da zueragem confundi sua cabeça. Aquela declaração pareceu zombação. Você me deixou em casa sem eu ao menos cantar, bateu a porta do carro e se foi.
Foi ai que te perdi?
Mas também existem os boletos, sim os boletos. Na minha trapalhada de tentar viver, esqueci entre os dias aqueles papéis. O valor monetário agrada e desagrada capricornianos.
Foi ai que te perdi?
Tem aquela viagem né? Aquela onde eu aproveitei cada minuto sem olhar pros lados, sem criar relatórios. Aquela em que me permiti ser silencioso mas você não entendeu.
Foi ai que te perdi?
Se pensar bem, pode ser que te perdi no meu ego, no meu egoísmo, no meu rancor e na minha inveja. Pode ser que te perdi por te querer demais, por te proteger ao extremo, por confiar mais em você. Te perdi em minha projeção.
Pode ser que te perdi por me encontrar em você.






E você? Onde foi que você me perdeu?