sexta-feira, 14 de novembro de 2014

a aparição de lídia


Quando equilibrista na corda branca, Lídia já sabia de toda minha rotina.

Sabia o horário do despertador, de quanto usava da soneca, a duração das orações diárias, os dias do banho quente e os dias de banho frio, os dias que conseguia alcançar o ônibus e os dias do táxi. O horário do meu trabalho, dos insights. Sabia quando a maconha era usada como ativador de apetite ou fonte de criatividade e foco. Sabia o horário de saída, e principalmente, dos treinos.

Lídia sabia que era na escola de circo, no treino de equilíbrio na corda branca, o momento certo para uma conversa.
Depois de 21 dias de observação, resolveu iniciar um diálogo.

Eu estava lá no alto, atravessando a linha, bem no último terço, quando o coração acelera ao máximo e eu paro para um cigarro (seguindo orientações de que este é o momento certo de treinar a parada na linha branca, fumar e continuar o caminho, obtendo intenso aproveitamento), que algo congelou no ar a fumaça da baforada e falou bem ao meu ouvido:




 "_Por minha causa você ficará na história."