Quando equilibrista na corda branca, Lídia já sabia de toda
minha rotina.
Sabia o horário do despertador, de quanto usava da soneca, a
duração das orações diárias, os dias do banho quente e os dias de banho frio, os dias que conseguia alcançar o ônibus e os dias do táxi. O horário do
meu trabalho, dos insights. Sabia quando a maconha era usada como ativador de
apetite ou fonte de criatividade e foco. Sabia o horário de saída, e
principalmente, dos treinos.
Lídia sabia que era na escola de circo, no treino de equilíbrio
na corda branca, o momento certo para uma conversa.
Depois de 21 dias de observação, resolveu iniciar um
diálogo.
Eu estava lá no alto, atravessando a linha, bem no último
terço, quando o coração acelera ao máximo e eu paro para um cigarro (seguindo
orientações de que este é o momento certo de treinar a parada na linha branca,
fumar e continuar o caminho, obtendo intenso aproveitamento), que algo congelou
no ar a fumaça da baforada e falou bem ao meu ouvido:
"_Por minha causa você
ficará na história."