quinta-feira, 23 de março de 2017

Te perdi?


Não sei onde ou aonde foi ao certo.
Lembro bem que fui buscar uma bebida, dei uma passadinha no banheiro, falei com algumas pessoas e quando voltei pra pista, você não tava lá.
A música alta e a colocação que batia em minha cabeça trocaram nossos lugares. Eu que sempre fui seu protetor, passei pro lugar de protegido, ou pensei que estava neste lugar. Beijei algumas bocas, falei alto e arrumei confusão esperando seu afago, mas você se chocou, saiu correndo, teve medo.
Foi ai que te perdi?
Ou não, pode ser que foi naquela manhã em que você desmontava sua casa, colocava a mudança no carro e eu insistia em cantar uma música de despedida. Sei que sou desafinado, a temperatura alta e sua ansiedade podem ter atrapalhado a interpretação da situação e eu que sou da zueragem confundi sua cabeça. Aquela declaração pareceu zombação. Você me deixou em casa sem eu ao menos cantar, bateu a porta do carro e se foi.
Foi ai que te perdi?
Mas também existem os boletos, sim os boletos. Na minha trapalhada de tentar viver, esqueci entre os dias aqueles papéis. O valor monetário agrada e desagrada capricornianos.
Foi ai que te perdi?
Tem aquela viagem né? Aquela onde eu aproveitei cada minuto sem olhar pros lados, sem criar relatórios. Aquela em que me permiti ser silencioso mas você não entendeu.
Foi ai que te perdi?
Se pensar bem, pode ser que te perdi no meu ego, no meu egoísmo, no meu rancor e na minha inveja. Pode ser que te perdi por te querer demais, por te proteger ao extremo, por confiar mais em você. Te perdi em minha projeção.
Pode ser que te perdi por me encontrar em você.






E você? Onde foi que você me perdeu?


sábado, 4 de março de 2017

A inveja


Ela chega assim, bem de fininho, composta em detalhes sem expressão mas com olhar atento. Supre a energia, confronta seu ego, destaca o pior do ser.
Ela está ali, bem na dela, sem gritar ou ao menos falar. Permeia a mente e se joga como um andarilho suicida.
A boca seca transforma a pupila que dilata, os dentes rangem. O amor desaparece e a paixão fica em evidência numa tragicomédia.
Traiçoeira que só, as palavras são estipuladas sem planejamento, batimentos cardíacos acelerados, pretensão além do alcance, a partir daqui o fogo domina a alma que domina o corpo que domina o asco do rancor amargo.







A verdade não existe, os amigos já se foram. Assassinato, roubo, adultério e vingança tomam seu trono perante o eu.