Quando eu penso em você, tenho vontade de me jogar do maior
prédio da cidade, só pra testar a sorte e os anjos.
Parece que quanto mais tento te esquecer em corpos quentes,
mais a mente fica próxima do seu coração. Não falo “coração próximo do seu
coração” porque esse tal que bate no meu peito é só mais um músculo que mantem
viva a carne. Um músculo como qualquer outro, sem formato bonitinho, sem cor
vermelha. Já petrifiquei. Pronto. Menos um sofrimento.
Inconstância de relações passageiras. Sexo pelo sexo.
Orgia. Mãos, suor, peito, braço. A sina
é testada. O carma confirmado. Agora existe assunto pra escrever. A tinta da caneta quando toca o papel forma
um borrão com as lágrimas salgadas da solidão.
A chuva começa a cair. Visto minha melhor roupa, faço a
barba e vou pra rua. Quem me acompanha é a puta da angústia. Ela sempre me faz
companhia. É puta de bom caráter, foge das regras feitas.
Caminhei em direção ao nada, onde os edifícios fazem sombra
e as identidades são queimadas. Pensei
que ali, se pá, poderia queimar o seu e o meu RG. Queimei apenas meu desejo,
entre tantos outros que como eu, eram perdidos.
A angustia, puta que só ela, ficou na esquina, arrumou um
cliente, trabalhou, voltou. Com sua imagem latente me acompanha de volta. Não
sei mais o que fazer. Busco por gozo, espasmos e dores de cabeça. Audácia minha
pensar que a solução está nesse caminho. Quanto mais fácil, mais dor. Quanto
mais fácil, mais autodestruição. Quanto mais fácil, mais meu peito aspira,
dilata, explode e se cala.
A sorte continua, me protege. Os anjos, eles não existem.
E agora?
Quanto mais vou ter que sofrer no meu próprio ego pra
esquecer você e procurar meu próprio eu?