terça-feira, 10 de abril de 2012

.over.


Assiste um programa qualquer, a tv pula e o olho grita.
Pensa, pensa, pensa, continua na mesma. Escreve pra passar. Unhas roídas, coração acelerado, amargura na boca, o tempo passa, o relógio corre.
Entre aspas, solidão errada.
Tic.tac.tic.tac.tic.tac.tic.tac.tic.tac.tic.tac.tic.tac.
A vida se cansou de dar chances. O dinheiro troca de mão. As paixões se perdem.





Dois pontos, na outra linha, parágrafo, travessão:
-Olá insônia, você vem sempre aqui?
A insônia responde, com um leve sorriso no canto da boca:
-Não, só quando você não está trabalhando. Só quando não está sol. Não atendo ao telefone antes das 18h. Durmo de dia e perturbo corações dilacerados quando a noite cai. Sou o resto da nóia e a incerteza do dia seguinte. Quando não me ligam, vou onde sinto cheiro de juventude, cheiro de preocupação, cheiro de inocência corrompida, de ilusão, de pretensão.





O espelho não reconhece mais o reflexo, as mãos se cansaram das ordens. Entre as cinzas de cigarro, motel barato e sexo fácil. O corpo só segue impulsos mecânicos.







Não existe mais ninguém ali dentro. Se mudou para Kathmandu, manda lembranças e postais sempre aos dias finais de cada mês. Comprou uma casa branca com sofá de couro preto que fica na sala. Tem amigos com mais de 30 e um livro com recordações inventadas.
Não existe mais insônia e perdeu a vontade de tv.

Um comentário:

uma parte de mim disse...
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