Quantas vidas existem dentro de um corpo? Uma pergunta que não
para de latejar dentro do peito. Um questionamento inútil.
De que serve saber quantas vidas existem se nem mesmo uma é
vivida. Quanto mais a afirmação é repetida, mais outras perguntas surgem.
Pais, amigos, trabalho, estranhos. Cada um te toca de uma
forma. Pra cada um, uma vida surge. Pra cada um uma roupa é posta.
Queime. Queime essa falsa pretensão de futuro bom. Que futuro
existe em mil vidas. Mil futuros não são possíveis. Mil futuros, mentira.
O dinheiro manda. Nosso deus maior. Nosso objetivo. Machucados
tilintam. Moedas que pago, pagam, vão pagar.
Dinheiro que existe na nuvem negra que acompanha. Uma nuvenzinha,
bem acima da cabeça. Acorda com ela, dorme com ela. Fantasia surreal pra
amenizar tanta dor.
Dinheiro, compre minhas mil vidas. Me dê duas mil mortes. Um
câncer de brinde. Rancor de bônus.
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